Esta foto do Getúlio me fez voltar no tempo. O dia foi 07/07/77. Faltavam dez minutos pras 7 da noite. Eu tinha ido buscar um frango assado, pro jantar, na distribuidora Só Frango que minha mãe tinha montado numa loja da Samdu Sul. Voltava toda tranquila, na minha Belina marrom, achando muito calma aquela pista, naquele horário que, normalmente, era de rush. Escutei barulho de freios, percebi um carro parado, à esquerda, dando seta pra descer pra QSC e uma caminhonete vindo pra cima de mim.
Estava dando seta, pra esquerda, pra deixar a Samdu, pois morava em um apartamento, no prédio da Brecol. Pretendia, pois, subir; e já me posicionava mais para a esquerda da pista. Atenta, virei, rapidamente, o volante para a direita, o mais que pude, mas a caminhonete ainda abalroou, com força, toda a lateral do meu carro. Por sorte, não foi tão impactante e consegui parar a poucos centímetros de um poste.
De onde surge tanta gente quando acontece algo sinistro? Parece que é instantâneo. Lembro-me que dei ré e parti na direção do centro da cidade, atrás do meliante que, em vez de bater no carro parado que ele viu de última hora, jogou a caminhonete pra esquerda do tal carro e acertou o meu! Ouvi pessoas me incentivando, com gritos e palmas e lá fui eu, decidida a ver a placa do carro para poder registrar a ocorrência...
Alcancei a caminhonete e consegui emparelhar minha Belina com ela, mas não consegui desvendar a placa, no meio de tanta poeira... Enxerguei três pessoas na cabine. O motorista fez menção de jogar a caminhonete pra cima do meu carro... Tudo isso, na pista ainda em construção. Tudo era só poeira ...
Na foto do Getúlio, o carro que desce no rumo do centro da cidade, levanta uma nuvenzinha de poeira. Na história que vivi, a caminhonete fugia na direção da Ceilândia e a cena era sinistra, por conta da escuridão e da poeira...
Ainda bem que eu não estava armada! Ainda bem que eu nunca aprendi a atirar...
Credo! Será que meu instinto violento foi influência dos filmes de faroeste que vi no Cine Paranoá?
Esqueci de contar que eu estava grávida, de cinco meses, do meu Pretim, meu quarto filho.
A pista irregular, a poeira e a certeza de não conseguir enxergar a placa, fizeram com que eu voltasse à razão e eu desisti da empreitada... Acompanhada da minha raiva, sentindo-me injustiçada, voltei pra casa.
Quando se é jovem, injustiça costuma ser carga enorme de suportar...
Se fosse um filme!!! Ah, se fosse um filme eu teria jogado minha linda Belina contra a caminhonete que, além de sair da estrada, teria a má sorte de cair num despenhadeiro (o lugar não tem um, mas, no filme, eu providenciaria para que tivesse), com direito a iluminar todo o cenário, quando batesse no fundo e explodisse e, de quebra, levasse minha raiva pro espaço, no meio da fumaça negra que subiria ameaçando a camada de ozônio que, naquela época, nem fazia parte das minhas preocupações...
Voltei pra casa, deixei o frango e corri pra escola, sem jantar. O horário de entrada era às 19:30 h e eu nunca fui de chegar atrasada.
Minha Belina ficou uns bons meses amassada e riscada e complexada... Professor nunca foi bem remunerado mesmo...
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