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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

PASSARINHOS

Resolvi perder tempo, observando e ouvindo passarinhos,
Tem um q alerta: tivi, tivi, , tivi, tivi...
O outro parece procurar um vestido! A cada vez, repete três vezes: vis-tidu, vis-tidu, vis-tidu... Aí se cala. E volta: vis-tidu, vis-tidu, vis-tidu...
Quando contei pra Taís, a netinha caçula, de quatro aninhos, ela perguntou se ele queria comprar um vestido. Respondi que achava que ele queria era vender... Afinal, os tempos andam difíceis!
Acabou de passar um pássaro grande. Estabanado. O sol me impediu de vê-lo, mas, pelo som, era um tucano que se apressava em acudir alguém, repetindo: toaqui, toaqui, toaqui...
Passou um avião que silenciou tudo, intimidando a todos com seu brilho ofuscante e o barulho invasivo...
Encontro-me deitada, no pula-pula dos meninos da chácara. Fica na área da piscina e, de onde estou, tenho um olho grudado nas netinhas de cinco anos,  a Juliana e a Clarisse, que se esbaldam na água; e o outro nos passarinhos... Bem verdade que os ouvidos estão mais ligados aos passarinhos que o olho...
O pseudo-tucano voltou e pude vê-lo, perseguindo um alado pequenino. Como são enganosas as conjeturas! A bem da verdade, com seu voo barulhento, de asas intimidadoras e possantes, ele caça um passarinho desprestigiado e repete toaqui, toaqui, toaqui... Nem é tão grande. Nem é tucano. Mas o pequeno é mesmo minúsculo!
Em trinta e três anos de chácara, mal sei distinguir um sabiá de uma rolinha.
Só gosto de fotos de pássaros. Ao vivo e em cores são cansativos no quesito cantilena repetitiva. Considero-os barulhentos inoportunos.
O indefeso pequenino se vira, usando o que a natureza lhe deu de melhor: a capacidade de mudar a rota! Vira-se com facilidade, para a esquerda, depois para a direita, e o grandão toaqui passa reto, sem a agilidade pra acompanhar o perseguido;  e demora um pouco para voltar ao curso perseguidor...
Na vida também somos perseguidores enfáticos e levamos rasteiras que atordoam, mas voltamos ao curso com a mesma ênfase... Pelo menos, muitos somos assim...
Um pequenino chegou e pousou pertinho de mim. Chegou mudo e saiu calado. Tive a certeza de ouvir seu coração batendo apavorado tum-tum, tum-tum... A aventura deve ter servido como teste de coragem e aposto que o assustadinho ganhou uma aposta entre os seus, mostrando-se poderoso...
Pousam seis sabiás de uma vez sobre cinco fios de energia esticados entre dois postes. Imagino uma clave de sol, além de me dar o direito de ignorar um dos fios onde nem um pousou. Leio as notas musicais: re, mi, sol, sol, re, fa. E fico frustrada por não ter a peça musical inteira...
Tem um q fala rapidim e chiadim assim: eufixixi, eufixixi...
Também contei pra Tatá e ela riu, dizendo que se ele fez xixi lá do céu então deve ter molhado a cabeça de alguém.
Outro se acusa admirado a intervalos pequenos: uuooou!, uuooou!, uuooou!...
Agora, muitos se escondem entre as folhas da árvore mais próxima e chiam juntos: shshshshsh Também ouço, vindos de lá, de vez em quando, uns piados. Um dá gargalhadas tristes a intervalos regulares: hahahahahahahahahahhhhh
Definitivamente, depois de um bom tempo, entendi que nada aprendi ouvindo pássaros.
Já sabia que cada um tem seu próprio jeito de ser.

Mas, foi divertido parar um tempo os meus pensamentos para relaxar e constatar que tudo que é ser vivente se encontra enredado nos seus feitos que parecem – para eles, principalmente - carregados de importância... 

                                                                                                                                agosto de 2015