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terça-feira, 5 de junho de 2012

Minha homenagem de gratidão à terra que me acolheu e envolveu!

Taguatinga se localiza no Planalto Central, em região de cerrado. Suas árvores nativas têm desenho retorcido, esculpido pelo clima seco dos meses sem r. Os ventos que a cortam trazem sensação de conforto, abrandando o calor, e trazem energia para seu povo insistir no comprometimento com o futuro. Seus habitantes têm histórico de origem de luta árdua. O historiador Adirson Vasconcelos conta, no livro As cidades Satélites de Brasília, publicado em 1988, como foi o início. Cita os tratores do Departamento de Viação e Obras desmatando e abrindo a Avenida Central; conta que o sistema hidráulico foi instalado para bombear água do ribeirão para um chafariz improvisado; conta como foi a construção da Caixa D’Água... O autor acrescenta: “O local escolhido para o início da ocupação é uma área próxima a uma mina d’água, na região onde hoje se situa o Colégio Marista (VASCONCELOS, 1988, p. 25/26)". Mal sabiam aqueles que vinham dos mais diferentes rincões, que aportariam em lugar com endereços atípicos, na cidade que nasceu ao redor da QSC e QSD.
Tarefa difícil essa de deixar, na terra natal, o conforto cômodo, os costumes, as manias, para enfrentar o desconhecido e desbravar o sertão. Além das atividades físicas da labuta diária, parte da noite era aproveitada para trabalhadores unirem-se em mutirões, quando então levantavam barracos para outros trabalhadores que chegavam e passavam a ser parte da grande construção de Brasília.
Os ventos que hoje cortam a cidade, contornando tantos prédios-obstáculos-verticais, impensados no início da cidade, balançando as folhas e galhos das árvores das praças, das ruas, dos quintais, são ventos que podem até ser os mesmos que levantavam poeira naquele tempo. Lá, eram velozes e iam em direção às conquistas; aqui, vão passando e conhecendo os caminhos e as figuras que substituem o passado.
Faltava água, faltavam árvores, faltava moradia, faltava escola... E tinha cor. Vinha do azul do céu o contorno que emoldurava os ideais que eram buscados na raça.
Coube ao Bahouth (1978) a constatação:
O desejo de ficar, de morar, de fazer sua casa e fixar raízes, tudo isso deu ânimo e coragem aos que tiveram que enfrentar um pioneirismo cheio de percalços. A ocupação de um pedaço de terra, a luta para conservá-lo e mantê-lo, as dificuldades dos anos de implantação, transformaram esse sentimento em uma orgulhosa identificação: eu sou taguatinguense (BAHOUTH, 1978, p. 133).
            Lopes (1989) fez, em livro, o depoimento que identifica o verdadeiro papel do pioneiro de Taguatinga:
Taguatinga nasceu porque estava sobrando gente e faltando espaço no grande canteiro de obras que era a Cidade Livre. Era um problema para os tecnocratas que moldavam a Nova Capital. E o nascimento de Taguatinga, plantada bem longe do Plano Piloto, foi a primeira “solução de prancheta” dos tecnocratas que, unidos aos políticos e administradores da obra, resolveram que o povo deveria ficar longe, bem longe, para não atrapalhar (LOPES, 1989, p. 12).
Estes dois últimos autores citados têm em comum autoria de obra sobre Taguatinga. Alberto Bahouth Júnior escreveu Taguatinga: pioneiros e precursores. Wílon Wander Lopes escreveu Taguatinga tem memória. O primeiro livro conta sobre os primeiros 20 anos de Taguatinga. O segundo faz o retrato dos 30 anos.
Vive-se um tempo distante daquele de alvorada já regada a suor. Um tempo quando sonhos, trabalho e persistência eram sinônimos. Passaram-se 54 anos. A cidade continua sua sina triste, a de ser mera coadjuvante, sem autonomia, sem serviços básicos condizentes com seu perfil de metrópole. Continua carente. À mercê de decisões que não partem dos anseios do seu povo. Seus habitantes têm consciência que merecem ter mais, muitos mais, motivos para comemorar esta data. 
Neste dia 5 de junho de 2012, quando 54 anos se passaram, Taguatinga vai amanhecer coberta pelo azul celeste, abençoada por Deus. Muitos saberão reconhecer a importância da caminhada e baterão no peito para alardear que a emoção que sentem brota deste chão. Parabéns, Taguatinga! A fé em dias melhores é marca pioneira do seu povo!
Minha homenagem de gratidão à terra que me acolheu e envolveu!
Cléia Gerin