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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Ética na ciência

CNPq ANUNCIA DIRETRIZES ÉTICAS PARA PESQUISA CIENTÍFICA
Fonte: Portal do CNPq
http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2011_11_03&pagina=noticias&id=06994

Ética na ciência
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) divulgou um conjunto de diretrizes para promover a ética na publicação de pesquisas científicas e estabelecer parâmetros para investigar eventuais condutas reprováveis.
A iniciativa foi tomada após denúncia de fraude em publicações científicas envolvendo pesquisadores apoiados pela instituição.
De acordo com o presidente do CNPq, Glaucius Oliva, "diante da inexistência de normas internas específicas e instrumentos estabelecidos para o tratamento adequado de ocorrências desta natureza, a Diretoria Executiva decidiu criar uma Comissão Especial, com a missão de propor recomendações e diretrizes sobre o tema da Ética e Integridade na Prática Científica".
O CNPq constituirá agora uma comissão permanente para difundir informações sobre pesquisa ética, principalmente sobre o ponto de vista da publicação científica.
O mesmo grupo se encarregará de analisar as denúncias que chegarem à instituição.
As regras propostas preveem que as denúncias de infrações serão submetidas a um juízo prévio da comissão permanente. Se julgadas verossímeis, o CNPq criará uma comissão extraordinária de especialistas para análise do caso.
De falsificação a repetição
O texto descreve quatro condutas ilícitas: a falsificação, a fabricação de resultados, o plágio e o autoplágio, este definido como a republicação de resultados científicos já divulgados como se fossem novos, sem informar a publicação prévia.
As regras também condenam a inclusão como autores de pessoas que só tenham emprestado equipamentos ou verba, sem participação intelectual no artigo científico.
As punições para os delitos mais graves incluem a suspensão de financiamento por meio de bolsas e, eventualmente, a devolução do recurso investido pelo CNPq no trabalho.
Diretrizes para uma pesquisa ética
1.O autor deve sempre dar crédito a todas as fontes que fundamentam diretamente seu trabalho.
2.Toda citação in verbis de outro autor deve ser colocada entre aspas.
3.Quando se resume um texto alheio, o autor deve procurar reproduzir o significado exato das ideias ou fatos apresentados pelo autor original, que deve ser citado.
4.Quando em dúvida se um conceito ou fato é de conhecimento comum, não se deve deixar de fazer as citações adequadas.
5.Quando se submete um manuscrito para publicação contendo informações, conclusões ou dados que já foram disseminados de forma significativa (p.ex. apresentado em conferência, divulgado na internet), o autor deve indicar claramente aos editores e leitores a existência da divulgação prévia da informação.
6.Se os resultados de um estudo único complexo podem ser apresentados como um todo coesivo, não é considerado ético que eles sejam fragmentados em manuscritos individuais.
7.Para evitar qualquer caracterização de autoplágio, o uso de textos e trabalhos anteriores do próprio autor deve ser assinalado, com as devidas referências e citações.
8.O autor deve assegurar-se da correção de cada citação e que cada citação na bibliografia corresponda a uma citação no texto do manuscrito. O autor deve dar crédito também aos autores que primeiro relataram a observação ou ideia que está sendo apresentada.
9.Quando estiver descrevendo o trabalho de outros, o autor não deve confiar em resumo secundário desse trabalho, o que pode levar a uma descrição falha do trabalho citado. Sempre que possível consultar a literatura original.
10.Se um autor tiver necessidade de citar uma fonte secundária (p.ex. uma revisão) para descrever o conteúdo de uma fonte primária (p. ex. um artigo empírico de um periódico), ele deve certificar-se da sua correção e sempre indicar a fonte original da informação que está sendo relatada.
11.A inclusão intencional de referências de relevância questionável com a finalidade de manipular fatores de impacto ou aumentar a probabilidade de aceitação do manuscrito é prática eticamente inaceitável.
12.Quando for necessário utilizar informações de outra fonte, o autor deve escrever de tal modo que fique claro aos leitores quais ideias são suas e quais são oriundas das fontes consultadas.
13.O autor tem a responsabilidade ética de relatar evidências que contrariem seu ponto de vista, sempre que existirem. Ademais, as evidências usadas em apoio a suas posições devem ser metodologicamente sólidas. Quando for necessário recorrer a estudos que apresentem deficiências metodológicas, estatísticas ou outras, tais defeitos devem ser claramente apontados aos leitores.
14.O autor tem a obrigação ética de relatar todos os aspectos do estudo que possam ser importantes para a reprodutibilidade independente de sua pesquisa.
15.Qualquer alteração dos resultados iniciais obtidos, como a eliminação de discrepâncias ou o uso de métodos estatísticos alternativos, deve ser claramente descrita junto com uma justificativa racional para o emprego de tais procedimentos.
16.A inclusão de autores no manuscrito deve ser discutida antes de começar a colaboração e deve se fundamentar em orientações já estabelecidas, tais como as do International Committee of Medical Journal Editors.
17.Somente as pessoas que emprestaram contribuição significativa ao trabalho merecem autoria em um manuscrito. Por contribuição significativa entende-se realização de experimentos, participação na elaboração do planejamento experimental, análise de resultados ou elaboração do corpo do manuscrito. Empréstimo de equipamentos, obtenção de financiamento ou supervisão geral, por si só não justificam a inclusão de novos autores, que devem ser objeto de agradecimento.
18.A colaboração entre docentes e estudantes deve seguir os mesmos critérios. Os supervisores devem cuidar para que não se incluam na autoria estudantes com pequena ou nenhuma contribuição nem excluir aqueles que efetivamente participaram do trabalho. Autoria fantasma em Ciência é eticamente inaceitável.
19.Todos os autores de um trabalho são responsáveis pela veracidade e idoneidade do trabalho, cabendo ao primeiro autor e ao autor correspondente responsabilidade integral, e aos demais autores responsabilidade pelas suas contribuições individuais.
20.Os autores devem ser capazes de descrever, quando solicitados, a sua contribuição pessoal ao trabalho.
21.Todo trabalho de pesquisa deve ser conduzido dentro de padrões éticos na sua execução, seja com animais ou com seres humanos.
Recebi da minha amiga Vânia e compartilho aqui porque o tema exige seriedade...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Sinos que ecoam lembranças

No interior do estado de São Paulo, em Batatais, um casarão repleto de lembranças abriga somente duas pessoas: uma filha, de nome Edna, e a mãe dela. A Edna já tem 84 anos e, por ter enviuvado cedo, voltou a morar com a mãe, pra cuidar dela. A mãe da Edna é a Vovozinha que emociona, pois é exemplo vivo de perseverança e amor pela vida. Ela já tem completos 106 anos!
Como sei sobre elas?
Moro longe há 46 anos e, quando ligo pra minha cidade natal, pra falar com parentes que ainda se encontram por lá, às vezes ouço, ao fundo, o som dos sinos da minha infância. Sinos da Igreja de Nossa Senhora Sant’Ana.
Nesse dia 8 de fevereiro de 2010, eram dez horas da noite quando liguei pra Diomar, que tinha acabado de entrar em casa; tinha ido a uma cidade próxima chamada Batatais, a cidade onde moram a Vovozinha e sua filha.
Foi assim que fiquei sabendo das duas.
Enquanto conversávamos, acompanhei as dez badaladas do sino, como se ouvisse a trilha sonora do filme que me reporta à minha infância feliz.
Sinto-me atraída por casos que envolvem antepassados, além dos que fazem ligação com o que vivi antes de vir pro Distrito Federal escrever uma história bastante desarticulada da anteriormente prevista. E a Diomar sabe da minha atração. Sempre que nos comunicamos, ela dá notícia de algum conhecido, ou parente, que tinha ficado perdido no passado. Ela gosta e, melhor ainda, demonstra que gosta, muito mesmo, de gente.
A Diomar contou que a Ana, a irmã mais nova, vai ter de passar por cirurgia, por ter rompido um tendão no ombro.
Também a Diomar passou por uma cirurgia dessas há uns dois anos, só que o tendão que rompeu foi o do calcanhar esquerdo, e ela foi operada e ficou boa. Portanto, tirando as dores e o mal estar por ficar com as atividades restritas, o problema da Ana não é dos piores. Foi por causa dele que as duas estiveram em Batatais: o médico renomado atende lá. Saíram de Ipuã por volta de uma da tarde. Não me ative muito à história da Ana. Menos por desinteresse, mais porque a Diomar estava eufórica demais pra contar que, além da consulta, resolveram fazer uma visita a uns parentes que lá residiam, mesmo sem saber se os iriam encontrar. Aí, descobriram uma prima com 106 anos de vida!
_ A filha da tia Carolina, a quem a gente chamava de tia Carlota, está com 106 anos e é mesmo que ver a Nona Rosa, disse a Diomar. Não anda mais, passa a maior parte do tempo dormindo, carinha de gente bem cuidada. É tranquila, precisa ver! E lúcida! Principalmente, quando é pra contar coisas do tempo antigo. Precisa ver! A filha Edna que cuida dela! E a filha tem 84 anos!
A Nona Rosa era avó do meu pai e da Diomar e de mais uns sessenta netos. Ela teve duas irmãs: a Carolina e a Deia. Todas já se foram, claro. A Nona Rosa era de 7 de agosto de 1870 e era a do meio. A Diomar contou que, na época da primeira visita que fez à família, junto com a mãe e a avó, as duas irmãs da Nona Rosa eram vivas. E que a tia Carlota tinha se casado com um moço de sobrenome Venturoso e tinham uma pensão, lá mesmo, em Batatais. E que bons ventos sopraram por aqueles lados. Tanto que eles chegaram a abrir filial em Uberlândia, no vizinho estado de Minas Gerais. A Vovozinha é a filha caçula do casal Venturoso. Ela e a filha Edna moram no casarão que, antigamente, era pensão.
_ Quando estava com dezessete anos, estive na casa delas pela primeira vez. Em sessenta e três anos, estive na casa delas três vezes. Na primeira vez, fui com a minha mãe e a minha avó, sua Nona. Enquanto a Diomar fala, eu projeto, na minha mente, a carinha dela, sempre exibindo um sorriso luminoso e constante. É marca registrada dela...
Hoje, a Diomar tem 80 anos; completados no dia 19 de novembro de 2009. Por ter ido a Batatais apenas três vezes, mais surpreendida ela ficava, a cada nova ida. Distâncias são empecilhos que prejudicam o estar junto, no concreto, mas que ensinam a valorizar os escassos momentos de convivência real... A Diomar continuava:
_ Na segunda visita, fui junto com a Ana, já estávamos casadas, e contratamos um motorista pra levar a gente. A gente nem tinha carro ainda. A Ana duvidava que eu achava a casa e eu achei de primeira!
Nessa segunda visita, mais de quinze anos depois, quando achou que era o lugar, pediu pro motorista parar o carro. Desceu e abordou duas senhoras que se encontravam conversando, do lado de fora da casa, na calçada. Eram duas primas que não negavam o parentesco, por conta da semelhança:
_ Eu sou neta da sua tia Rosinha, disse-lhes a Diomar.
Na ocasião dessa segunda visita, as três irmãs, Rosa, Carolina e Deia já eram falecidas. E as primas ficaram um tempão falando sobre os próprios destinos e compartilhando os sobressaltos, o medo, os desatinos e a saudade dos que se foram, de quem herdaram a fé na vida.
Foi um telefonema de muitos minutos. Eu mais ouvi que falei e senti meu coração em estado de graça. Foi como dar as mãos a todas as boas lembranças, numa gostosa volta a um tempo que não era o meu, transcendendo um momento que se estende, pra frente e pra trás, agarrada aos elos de uma corrente forte que se chama VIDA e que carece de emoção para significar!
Brasília, 9 de fevereiro de 2010