Minha primeira
lembrança marcante e dileta, da primeira vez que estive num cinema, vem do filme “O Pequeno Polegar”, da Disney.
Colorido e sublime.
Colorido e sublime.
Antes dele, nada parece ter sido assim digno de ser memorizado.
Quero crer que
seja por ter crescido vendo cinema.
Nasci numa
cidade que tinha um Cine Teatro, a cidade de Ipuã, no interior do estado de São
Paulo.
A fachada desse espaço de sonhos era cheia de cartazes atrativos, anunciando “Para Breve, Novas Emoções!”.
Era tudo tão
maravilhoso!
Um mundo à
parte, onde a imaginação era a impávida e cativante jornada para o infinito.
A cada nova
experiência, mais e mais sonhos se apoderavam dos corações incautos...
Eu era feliz. E
sabia!
Eu ia à porta do
cinema, todos os dias, onde as paredes exibiam fotos de
artistas apaixonantes, nos cartazes chamativos (inicialmente, muitos filmes eram franceses; e, com o tempo, os americanos se destacavam mais), buscando
saber qual a fita da noite e a faixa etária correspondente.
Lembro-me que,
às segundas, terças e quartas, eram filmes repetidos.
Na quinta, o
filme era novo: eu ia.
Na sexta, era
filme de terror: não perdia, por nada! Quase morria de medo, depois!
No sábado, era
de amor: eu ia.
No domingo,
tinha a matinê: eu ia. À noite, nova fita: eu ia!
Depois que
completei treze anos, virei um varapau (como diziam). O fato de ter crescido tanto tinha suas vantagens e
desvantagens e eu tinha muitos complexos e muito medo de nunca parar de
crescer. Mas, o certo era que o meu tamanho me permitia, à noite, transformar-me em uma moça. Além de compor-me com
mais cuidado, acrescentava um sutiã à minha indumentária, completava o espaço dele
todo com algodão, empertigava meu manequim de Visconde de Sabugosa e via filmes
permitidos para maiores de dezoito anos! Era emocionante ver beijos na boca!
Eu tinha uma
prima querida, a Vilma Cleire Giorgiani, minha melhor amiga de infância, que
anotava, dia após dia, todos os títulos e protagonistas e diretores dos filmes
que o cinema exibia. Por volta das cinco da tarde, íamos as duas, pelas
calçadas, em direção ao nosso cinema. Ela, com um caderninho e a caneta na mão.
Eu, tagarelando... Tudo anotado, resolvíamos qual seria nosso programa noturno.
Voltávamos, cada
uma para a sua casa, jantávamos e tomávamos nosso rumo: ou íamos passar parte
da noite com os olhos grudadinhos na tela do Cine Theatro - aquele provedor de
emoções e sensações nos nossos coraçõezinhos carentes de aventuras e felicidade;
ou íamos para a praça da igreja matriz, brincar de ser feliz, ao som dos sinos
da minha terra...
Aparecida Cleia Gerin,
ResponderExcluirComo é importante ler relatos da vida cultural de nossa amada Ipuã. Não tenho dúvidas de que o Cine Teatro de Ipuã está na mente de muitos filhos interioranos de forma que ele é um ícone de cultura em seu tempo.
Entendo que resgatar a história de seu povo, criar vínculos e amor pela cidade é uma forma de garantir a identidade territorial peculiar de cada região. Um povo que tem orgulho de sua história e orgulho de seu município degrada menos sua cidade, protege valores sociais. O cuidar de nossas gerações implica em conhecer as gerações anteriores.
Parabéns pelo blog.
Um grande beijo.
Theo Dias Martins Sacardo
Não sei mais se respondi quando li o que você, carinhosamente, escreveu! Escrever sobre minha infância perfeita na nossa cidade é uma alegria enorme! Tenha um final de semana abençoado, moço bonito!
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