No quarto, com a luz apagada, lanterna de led na mão
esquerda, e uma almofada na mão direita, a super vovó enfrenta um morcego.
Ela não está só; a super netinha, com outra almofada em
punho, destemida, grita e aponta e aponta e grita; pulando pelo quarto...
O morcego voa em círculos, buscando os cantos das quatro
paredes.
Quando se cansa, dependura-se no trilho, sem cortina,
esquecido na parede acima da janela do quarto.
À simples menção de levantar a mão com a almofada já
provoca o morcego que se lança no ar!
E a super vovó não se cansa de jogar a almofada na direção
onde o morcego parecia estar, antes de ter seguido seu rumo.
- Vó, ele já tá lá adiante!
A super netinha, sem paciência, passa a mão na testa,
afastando o cabelinho que insiste em cair no rosto, demonstrando ter percebido
que a super vó parece não ser tão super assim...
- Ah, se eu pudesse voar, senhor morcego, você ia ver como
eu sou terrível!
A super netinha se empolga com a fala da super vó e sobe na
cama e grita:
- Vem, senhor morcego, se você tiver coragem!
Num voo rasante, ele passa perto do braço da menininha:
parece ter entendido e, desafiador, passa ventando. E continua sua provocação,
pois avança na direção do rosto da super vó.
Gritaram as duas ao mesmo tempo!
Pausa para rir...
Ops! O morcego não pode descansar!
Recomeça o balançar de almofadas.
E o animal cretino, o rato voador, vai e vai e vem e vem e
vai e vem...
- Acho que acertei!
- Não, vó, num acertou!
- Acertei, sim, pega aí minha almofada; o danado tá ai
embaixo!
- Vó, ô vó, alá ele lá descansando...
A vozinha da super neta já parece meio desanimada!
- Não vamos desanimar! Ou você acha que ele é mais
inteligente que a gente?
- De jeito nenhum, vó! Se fosse já tinha saído pela janela!
- Viu, rato voador burro, a Juju é muito mais sabida do que
você!
- Não é não vovó; você também é sabida, vó!
Sem tempo para agradecer o elogio, a super avó vê o morcego
já voando perto do chão, evidenciando ser um rastejante estrategista, e
taca-lhe a almofada, novamente! Mas o bicho escapa.
- Deus, ó Deus, até quando? Tomara que esse bicho não faça
sujeira no quarto. Porque ele deve estar se borrando de medo de nós duas; a
super vovó e a super netinha!
Mais uma tentativa e nada!
E outra e tantas mais...
- Acertei! Foi pá bife!
- Acertou mesmo, vó! Acertou! É goooool!
- Ah, danadinho, morreu, né?
- Eca!!!!
- Fica aí e vigia que vou buscar a pazinha e a vassoura!
- Fico nada! E se ele virar vampiro?
- E se ninguém vigiar e, quando a gente voltar, ele tiver
sumido? Você não é a super neta?
- Tou nem aí, vó!
O danadinho ficou lá, no chão do quarto, com uma asa
esticada e o resto do corpo paralisado...
Um pé lá e outro cá.
E ele continuava lá! Ufa!
De repente, fez menção de abrir a outra asa e... paf... uma
pá certeira na fuça!
E adeus, morcego irritante!
- Ele só tinha desmaiado, vó. Agora, foi prum céu de
morcego.
- Já pensou, Juju, se ele, com aquelas asas, for anjo dos
ratos?
- Não é não, vó! Ele é só morcego!
Missão cumprida!
Agora, toca escrever a história pra Juju ler pros filhinhos
dela, quando ela estiver no futuro. Tem também a história da coruja em cima do
armário da cozinha; a cobra rastejando na sala; o saruê sapateando e
escorregando na área externa; os dois calangos que morreram afogados na
piscina; o sapo que entrou na piscina e não achou a saída; a casa das abelhas
no forro da cozinha; o ninho de rolinha; e o ataque dos saguizinhos...
É, vida de super avó e super netinha é mesmo vida muito
trabalhosa! Haja almofada!
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