Foto do livro em tela, página 75
À página 66, do livro Nossa Terra, Nossa Gente, publicado em 1977 pelo escritor ipuanense Sebastião Aparecido Cruz, uma notícia publicada no jornal A Semana, edição 51, traz referência a missas celebradas na nossa Igreja Matriz (o autor manteve a grafia original):
“AVISO PAROCHIAL
Recebemos em data de 5 do corrente, o aviso
que abaixo transcrevemos:
“A começar do próximo domingo, aos
domingos e dias santo de guarda, haverá nessa Matriz duas missas, as 8 horas e
as 16 horas.
Sant’ Anna dos Olhos D’ Água, 5 de maio
de 1932.
O Vigario. P. José M. Brandi”
Em seguida, vem a nota, na mesma
edição:
“VISITA
Recebemos anteontem a visita do Revmo.
P. José M. Brandi, actual vigário desta parochia. Gratos”.
A nota com o título VISITA foi
publicada, portanto, no dia 7 de maio de 1932.
Meus pais, Ézio Gerin e Jandira Mapéli
Gerin, nasceram em Sant’ Anna, no ano de 1926. Em 48, a cidade passou a chamar-se Ipuã. Nessa data citada na
edição do jornal, tinham 6 e 5 anos, respectivamente.
Uma viagem, imaginar o que era nossa
cidade, naquele tempo!
Acho de grande importância ler sobre o
passado.
Acho que todos deveriam deixar sua
história escrita para que os descendentes tenham conhecimento do legado que
receberam.
Essas notícias de edições passadas de
jornal evidenciam como as circunstâncias eram diversas das que nós vivemos
hoje... Ou das que vivemos na infância e adolescência...
Minha primeira comunhão, por exemplo,
foi muito representativa, num tempo quando a religião era à base do temor a
Deus, muito mais do que o amor a Deus...
Foi no dia 30 de novembro de 1958. Eu
tinha acabado de completar 8 anos. Não tenho fotos, não tenho mais o santinho
que meus pais mandaram fazer em gráfica para distribuir como recordação. Mas
tenho, com certeza, lembrança marcante do momento quando, ajoelhada, aos pés do
altar, vi o padre aproximando-se...
Nas aulas de catecismo que antecederam
aquele momento, ouvi casos de pecadores que teimaram e foram receber a hóstia
com a alma suja! Que absurdo! Então, coisas terríveis aconteceram! Ah, a
imaginação de quem quer atemorizar uma criança é mesmo prodigiosa!
Tinha ido ao confessionário no dia
anterior e, com certeza, se não pequei por palavras, atos e omissões, tinha
pecado em pensamento! Temi, pois, que me acontecesse o pior! Não me lembro qual
foi meu pecado nesse ínterim confessionário/hora da experiência com a primeira
hóstia; mas tinha pecado, pois não consegui dormir direito na noite anterior.
A missa era, ainda, em latim. O padre
e os coroinhas ficavam de costas para os fiéis. Era um tremendo marasmo; um
silencioso e pesado tédio! Só tínhamos a nos animar o badalar na hora dos
sacramentos. Porque vinha carregado de simbologia, com o padre e o castiçal e
uma toalhinha branca e a hóstia sendo protagonistas de um ritual fascinante; e
era o prenúncio de que chegava a hora da comunhão.
Meu temor persistia: e se, na hora que
o padre viesse com a hóstia pro meu lado, e eu abrisse a boca para recebê-la,
labaredas saíssem e queimassem a mão dele e ele visse o demônio, em pessoa,
dentro de mim? Ou, se minha língua, em contato com a hóstia sagrada começasse a
sangrar?
Trago comigo, até hoje, esse pavor.
Mas, com certeza, não me impediu de
cometer meus pecados!
O ser humano é extrema e
narcisicamente autocondescendente. Só não perdoa erros nos outros. Somos assim
pela própria natureza! No entanto, acho que eu, particularmente, tenho plena
noção de que não aceito comigo o que não acho certo acontecer com o outro... Eu
me policio (todos pensamos assim!)! Então, tenho discernimento! Mas, e se eu
tiver deixado passar algo? Então, quando eu me aproximar da hóstia, achando que
não tenho pecados, algo vai acontecer para mostrar-me que sou hipócrita?
Vai?
Faz muito tempo que não me confesso,
nem comungo... Que feio! Mas é assim mesmo... Fazer o quê? Também é legado.
Viajei!
Intencionalmente!
Era muito impactante o contato com a
igreja do meu tempo de menina!
E marcou muito!
Marcaram muito também as quermesses!
À página 75, o autor cita as Festas
Religiosas: “[...] pensamos que a festa da padroeira seja a mais antiga de
nossa tradição” (CRUZ, 1997).
Na sequência, vem o testemunho de
Francisco Silva, contando que tinha um ano de idade (em 1913), quando a mãe “[...]
Ana Stábile, já participava da festa de Santana. Naquela época eram três
festeiros cada dia e esses festeiros traziam, cada um, vários cartuchos de
doces caseiros e ficavam na sacristia, pois, logo após a missa, os doces eram
distribuídos às crianças” (IDEM, p. 76).
Fiquei pensando que teria gostado
muito de viver isso: ganhar doce após a missa...
No seu testemunho, o sr. Francisco
Silva conta que Santana comemorava, de maio a julho, os eventos religiosos: “[...]
em maio, havia a festa do mês de Maria, com 30 dias de leilões e muito mais; em
junho as festas juninas e em julho, 30 dias de festa e leilões em comemoração a
nossa padroeira, Sant’ Anna” (IDEM, p. 77).
E acrescentou que a colônia portuguesa
comemorou, em 1936, ou 1937, a festa de Nossa Senhora de Fátima.
Era bem festeiro o povo daquele tempo.
Em 1919, a cidade contava com “[...]
aproximadamente umas 67 casas, sendo 18 ao redor da praça e umas 22 na avenida
Dona Tereza. [...] O cemitério ficava a poucos quarteirões da praça, no local
onde hoje é a confluência da Avenida Rui Barbosa com Joaquim Nabuco” (IDEM, p.
77).
Pulei das festas para o cemitério...
Esse específico cemitério não é o atual. Era dentro da cidade.
Esse específico cemitério não é o atual. Era dentro da cidade.
Ele ficava perto da casa da minha Nona
Rosa. Muitas vezes, passando por ali, de bicicleta, sentia que meu coração ia
saltar pela boca! Morria de medo do lugar. Minha Nona gostava de dizer que,
quando era mais nova, era comum passar por ele e ver que ossos brotavam do
chão... Minha tia Arlinda Tazinafo Moris confirmava.
Com certeza, o propósito delas era
manter-me bem medrosa! Confesso que foram vitoriosas na empreitada!
Dia destes, converso mais com o livro
do escritor Sebastião Cruz e as minhas lembranças...
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