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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Meu papel de revisora

Faço revisão de artigos, monografias, teses e, principalmente, de dissertações. Sou professora aposentada e passei vinte e três anos dando aulas de Português. Por vocação. Depois de fazer o Mestrado em Educação, na Católica, já aposentada, passei a fazer o que chamo de supervisão de produção textual, em linguagem acadêmica. Porque, além das vírgulas, dos pontos, das crases, das concordâncias nominal e verbal, e outras coisinhas assim, também observo e corrijo o texto quanto à concatenação de ideias, quanto à clareza, quanto à linguagem adequada a cada tipo de texto (se se escreve em linguagem científica, não cabe misturar com termos conotativos). Concordo com a professora doutora Clélia Capanema, atualmente atuando no Mestrado e Doutorado da Católica do Distrito Federal, que diz, em suas aulas, que é preciso ter cuidado, pois existe a palavra certa para cada contexto e, quando o termo não é o adequado, ele não se encaixa, fazendo com que o resultado não seja claro. Se me for repassado algum texto a ser acrescentado ao trabalho, também parafraseio.
São muitas as razões que levam alguém a contratar meu serviço: você sabe, mas não tem tempo; o prazo está expirando e você chegou a um impasse e não consegue passar para outra etapa; você tentou, mas não consegue ordenar e analisar os dados coletados; você terminou todo o trabalho, mas quer uma revisão, para sentir-se mais seguro perante a banca examinadora. Você tem muitas ideias, mas fica inseguro perante o/a orientador(a)...
O ideal é procurar o revisor desde o início da pesquisa. O sucesso do seu trabalho vai depender, essencialmente, de ter em mãos os instrumentos de coleta de dados com os questionamentos exatos, no sentido direto, em termos de significado, em relação ao que você definiu como objetivos. É como ir ao mercado comprar os ingredientes para um bolo. Dependendo do que você comprar, seu bolo vai ser do tipo comum. Mas, se quiser que seja mais elaborado, um bolo brigadeiro, por exemplo, você vai acrescentar alguns itens à lista. De todo jeito, ao final, você terá seu bolo. O interessante é que, ao comê-lo, ele convença que é um bolo e que foi feito, adequadamente, para, além de ser reconhecido como um, ainda agradar a quem o saboreia. Portanto, contratando desde o início, tem-se a possibilidade aumentada para arrancar do participante respondente as informações mais adequadas e interessantes. Com isso, os resultados da pesquisa trarão maior consistência às considerações finais. Citando mais um professor doutor do Mestrado e Doutorado da Católica, o Cândido Gomes, a pesquisa deve transcorrer como um rio que corre em ritmo normal; mas as conclusões precisam provocar um espetáculo tal e qual o é a pororoca: impressionante! Sem a coleta adequada de dados, não tem como fazer milagres.

Impasses:

Sempre surgem contratempos. Porque o relacionamento entre o relator da pesquisa e o revisor é um pouco conturbado. Geralmente, o contratante não gosta de ver que mexeram no texto que ele escreveu e estava “perfeito”. Ou por vaidade, ou por se sentir envergonhado, pois não sabia que não estava sendo tão claro quanto pensava. Costuma acontecer assim: o contratante reescreve e torna a incorrer nos mesmos tipos de erro. Isso é o que chamo de desconstrução. Já desisti de trabalho, sem ônus para o contratante, por razões assim. Respondo a todos os questionamentos sobre mudanças que faço e explico-as. Afinal, não sei só para mim: aprendi ensinando, errando e acertando. Não tenho a pretensão de saber tudo, mas sou uma ferramenta eficaz; dou o máximo para ser eficiente e para que o resultado da minha ajuda leve à efetividade da conquista do certificado e aprendizagem. Aprendizagem adquirida com o aprender fazendo! Já aconteceu de ouvir de uma contratante que a sua orientadora reputou como pífios os resultados da monografia dela. Na opinião da contratante, a orientadora referia-se às minhas interpretações, pois ajudei a escrever essas conclusões. Na minha opinião, fiz o bolo comum, porque os ingredientes não permitiram fazer milagre. Faltaram ingredientes? Sim! Então o bolo resultou insosso...
O trabalho final é uma leitura de todo o processo. Se os teóricos lidos e citados forem pífios (isso é a cargo do contratante); se os dados colhidos forem pífios (isso é a cargo do contratante); se a linguagem não for condizente, clara e objetiva (isso é a cargo da contratada), os resultados finais serão pífios. 
Cobro por página, uma pela outra; valor referente ao total, na publicação final. Recebo metade (faço uma previsão), no início; e recebo o restante, após a defesa, antes da revisão preparatória para a publicação.

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